terça-feira, 30 de outubro de 2007

De Angola: Uma Carta para os Moçambicanos

Artigo a publicar no OBSERVADOR

Para que os Moçambicanos saibam!

Adriano Parreira* (Presidente do Partido Angolano Independente – PAI, e Professor Universitário)

Quando o avião que transportará José Eduardo dos Santos aterrar em Maputo, os nossos irmãos Moçambicanos saberão que não é um amigo que acaba de chegar, mas alguém que há 30 anos é Presidente da República de Angola sem que alguma vez tenha sido eleito! É bom que os Moçambicanos saibam que embora haja formalmente um Primeiro Ministro ele é também o Chefe do Governo e, como não bastasse, sendo Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas o homem é também, simultânea e descaradamente, o Presidente do MPLA, o partido da situação que há 32 anos se apossou do poder em Angola e o mantém, sem qualquer legitimidade, há mais de 11 (onze) anos.
Se o seu perfil de ditador lhe assenta como cereja cristalizada em cima de bolo de chantilly, José Eduardo dos Santos é ainda o detentor de diversos recordes que nem Hitler ou Bokassa, que estiveram respectivamente 11 e 13 anos no poder, poderiam alguma vez imaginar, e que fariam deles autênticos aprendizes de feiticeiro.
É bom que os nossos irmãos Moçambicanos saibam que o indivíduo que sob as vestes de Presidente da República de Angola esconde as garras que dilaceram as entranhas deste Povo irmão do de Moçambique, mantém na miséria extrema doze milhões de pessoas e que foram pelo menos quatro milhões de angolanos que morreram numa guerra fratricida cuja única razão de ser foi a de José Eduardo dos Santos se manter no poder, a qualquer preço e à custa de muito, muito sangue inocente.
Quando a aeronave que transportará José Eduardo dos Santos aterrar no Maputo, o Povo Moçambicano, esse sim, nosso Povo irmão, deverá saber que durante o reinado do usurpador do poder em Angola, têm morrido todos os dias, só na cidade de Luanda, centenas de crianças com malária, diarreia, febre tifóide e outras tantas doenças perfeitamente controláveis, se não mesmo evitáveis.
O Povo Moçambicano tem o direito de saber que em Angola são exterminados todos os anos milhares de angolanos com fome e falta de cuidados médicos, enquanto que outros são marginalizados pelo sistema escolar perverso e corrupto ou esmagados nos escombros das suas humildes casas em proveito da ganância dos patos-bravos, sem que uma única vez José Eduardo dos Santos se dignasse visitar uma escola, e uma só e única vez o fez a um bairro degradado, mas somente para mentir com quantos dentes tem na boca que iriam ser construídas milhares de habitações que, evidentemente, nunca foram erguidas.
Os Moçambicanos têm que saber que Organizações Governamentais e não Governamentais têm vindo a denunciar em todo o mundo que José Eduardo dos Santos e os seus executivos estão envolvidos nos mais abomináveis crimes de corrupção, no desvio de biliões de dólares subtraídos dolosamente ao erário público angolano de forma impune, pois que mantém em Angola um sistema judicial clientelista e por isso mesmo fantoche, que interpreta as leis conforme os interesses do príncipe, e também porque a hipocrisia da Comunidade internacional parece não ter limites, nomeadamente os Governos dos países cujas empresas são autênticas máquinas depredadoras dos recursos naturais, acção que conta com a cumplicidade do Governo do qual José Eduardo dos Santos é o responsável mor.
É bom que os nossos irmãos Moçambicanos saibam que Angola é um país com uma população mergulhada na absoluta e mais degradante das misérias, saqueado por um despotismo cleptocrático institucionalizado, amordaçado por um regime fascista que atropela sistematicamente os Direitos mais fundamentais do Homem, e que exercício da cidadania é sistematicamente negado aos angolanos pelo oligarca José Eduardo dos Santos que afirmou, sem qualquer pudor, que os Direitos Humanos não enchem a barriga de ninguém.
É este o perfil do falcão voraz de falinhas mansas que aterrará em Maputo e que só merece o desprezo, o repúdio e a contestação de todos os democratas e amigos de Angola e do seu Povo, nomeadamente dos nossos irmãos Moçambicanos.

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